domingo, 24 de julho de 2011

AMY WINEHOUSE: SEXO, DROGAS E ROCK'N ROLL?


Sexo, drogas e rock’n roll. A tríplice aliança dos rebeldes com causa, que acompanhou a geração dos nossos pais, chega intacta ao século XXI?

Entre peaces and loves e os méritos de uma juventude transviada, a bandeira de hippies, punks, rockers era uma transgressão social, uma quebra de paradigmas. E aí santíssima trindade do Rock não era apenas uma expressão, mas um estilo de vida. Hoje o mundo finalmente descobriu que usar drogas faz mal (??), mas matar e morrer ao dirigir bêbado, pode (??!?). Mais ainda: hoje o mundo se pergunta "Por quê usar drogas? O que você quer provar e a quem?". 

Como diria Keith Ricards, “Aaahh, esses meninos com muito rock, pouco roll…”

Há uma lista incontável de ídolos que sobreviveram às drogas. Ótimo, de verdade. Mas o que faz a gente pensar que, sobrevivendo, continuariam produzindo? O que faz a gente pensar que, de repente, não cairiam no ostracismo, fadados numa versão decadente de si mesmos?

Não faltam bons exemplos dos que estão aí, apesar de tudo, vivos e firmes, a produzir. Chris Cornell, Steven Tyler, Ozzy Osbourne, Mick Jagger. Mas alguns outros são apenas sombra do que foram: Axl Rose, Sebastian Bach, Paul D'ianno, Tommy Lee.  

Ninguém se autodestrói porque quer. Até o barato virar dependência química, muitos esqueletos já foram escondidos no armário emocional. Amy cansou de ser genial e não foi de repente. 

Abro parêntese: sim, genial. A pequena judia está no mesmo patamar das grandes musas do jazz, do blues e do soul, afirmo sem-medo-de-ser-feliz. Amy é a Aretha Franklin deste século. Mas hoje paira uma lógica saudosista na qual reverenciar célebres do passado é diretamente proporcional a  subestimar os ícones da nossa própria geração. Perdoem o cetiscismo, não acredito que haverá nada de muito mais novo no cenário musical. Tudo que virá será sempre uma versão dos que já foram, dos que abriram portas para, justamente, servir de inspiração. Fecho parêntese

Nesses tempos contemporâneos e apocalípticos, todo mundo é Deus. Mesmo que todos estejamos sob o mesmo céu do julgamento, entoamos uníssonos um discurso hipócrita contra os males do século. Não use drogas, não coma muito, não fale palavrão, não surte, não quebre nada. A alma do rock'n roll nunca esteve tão carola. E aí, BUM! Nessa campanha “lute pela vida”, Amy jogou fora a sua. 


Mas a cantora não tinha compromisso algum com a Amy que o mundo conhecia. Desmedida, não dava a mínima em ser famosa, em ter fãs, em ter de fazer shows. A única coisa que lhe importava era sua própria dor. E, partindo da premissa de que todo poeta só é grande quando sofre, teve os maiores de seus lampejos criativos em Back to Black por conta do abandono do então namorado Blake Fielder - este sim, seu maior vício. No clipe da música, Amy enterra a si mesma, exatamente como o fez na vida real.


"Quem se habituou com fotos sensacionalistas de Winehouse, estranha a capa do primeiro disco, que em nada lembra as imagens fartamente bigbrotherizadas de uma celebridade mais conhecida por escândalos que por sua música". (Alexandre Inagaki)

A lembrança que mais gosto é ela linda, visivelmente chocada e emocionada ao saber que teria ganho 5 Grammys. Ingenuamente, torci para que superasse seus ímpetos suicidas. Sobre notícias da inglesa bebendo e caindo nos shows, eu só conseguia sentir uma enorme tristeza. Aquele desperdício que era um vozeirão naufragado em cachaça, a menina serelepe convertida em casmurro, toda a criação esvaindo em solidão. Uma pena mesmo, mas quem decidiria sobre isso não seria eu nem você. 

Anyway, que bom tê-la visto! Amy se inspirava em Aretha Franklin e Sharon Jones. Logo transformou tudo numa coisa sua e fez o grande favor de compartilhar com o mundo. Por essa generosidade, querida, obrigada.

Adeus!


We only said goodbye with words
I died a hundred times
You go back to her
And I go back to... black
(Amy Winehouse - Back to Black)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

RÓTULO? PÕE NA CONTA, GARÇOM!


Se lê Nova é fútil, se ouve Madonna é gay, se vê novela é dona-de-casa, se chama Severino é porteiro, se é nordestino é burro, se usa batom vermelho é puta, se é petista é ladrão. 

Quando foi que ficamos assim tão babacas? Tão preto & branco, oito ou oitenta, Yin e Yang, dá ou desce? 

Perdi esse bonde dos fatalistas tão enredados no maniqueísmo da pretensão.

Eu adoro novela, Machado de Assis, Freeddy Krueger, Laranja Mecânica, Legião Urbana, Cazuza, Pearl Jam, Janis Joplin, Elvis, Los Hermanos, Etta James, Sidney Sheldon, Dan Brow, Shakespeare. Assim, tudo-junto-e-misturado. 

Mas na cartilha do caga-regrismo, pra ouvir Beatles preciso saber todos os álbuns. Para ouvir Last Kiss do Pearl Jam, preciso saber que, antes de fazer sucesso na voz de Eddie Vedder, a canção já era interpretada por Buddy Holly na década de 50. Aliás, preciso não confundir com Billie Holliday, a cantora de jazz. E preciso ouvir SÓ Rock, só Clássico, só Samba, só Jazz, só Bossa Nova. Do contrário, ou eu não tenho capacidade de escolha ou tô fazendo média com meio mundo. Difícil. 

Tenho um amigo jornalista, mestre em Ciências Políticas, inteligentíssimo. Adora Metálica e CALYPSO. Sério, Calypso. Outra amiga tem tatuagem, cabelo roxo e piercing nos mamilos, mas toda quinta-feira bate ponto numa casa de sertanejo. Albert Einstein repetiu a quinta série. Marilyn Manson não fuma, não bebe, nem cheira. E sabe lá Deus se trepa. 

E agora, José? Onde estão as regras? Em que Bíblia tava escrito?

Que mundo louco. Entre a Rua Augusta e a Vila Madalena, há mais mistérios do que julga nossa vã filosofia, meus caros.

Estereotipar é preguiça de entender, de conhecer. A maneira mais eficaz de deitar e rolar na cama do comodismo. Afinal, é muito mais fácil concluir que todo nerd é tímido, que toda gostosa trepa bem ou que todo padre é pedófilo. Certo?

Óbvio, fica complicado defender o cara que ouve Molejo, lê Paulo Coelho e adora Transformers. Mas no frigir dos ovos, pra mim é o seguinte: desde que vc não consuma APENAS cultura inútil, é válido se misturar com o povão de vez em quando. Isso é estar aberto. É até, talvez, ser eclético, como vcs gostam de dizer.

Uma grande maneira de colonizar a massa é massificar o erudito. Não há outra forma de fazer a Maria do morro ouvir a 4ª sinfonia de Beethoven que entoa o comercial do sabonete Vinólia. E eu, que sou Maria, mas nem tanto do morro, também jamais teria curiosidade de ler a biografia de Leonardo Da Vinci, não fosse pelo Best Seller homônimo de Dan Brown. Nem aprofundar-me-ia no jazz de Etta James, não fosse por Beyoncé na pele da musa em Cadillac Records.

Acho que é por aí.

A gente é tão bitolado em estereotipar, que na década de 90, lembro-me dos Engenheiros do Hawaii - contemporâneos de Guns N’ Roses e Nirvana - sendo criticados por NÃO compor e cantar em inglês. E hoje a gente queria que Amy Winehouse se comportasse, que se enquadrasse como Diva, que fosse exemplo.

Sério? Todo mundo igualzinho descendo na boquinha da garrafa também?

Não estou falando em vulgarizar tudo, mas de criar links e possibilidades para que a massa PARE de pensar como massa. Nós, "do alto escalão", deveríamos ser mais generosos. Pode ser utopia, mas prefiro lutar por este mundo de Matrix, onde o cara que ouve Metálica também pode gostar de Sidney Magal e também pode ler Nietzsche e assistir BBB sem que lhe taquem as pedras sob o julgamento da heresia.

Olha, quando eu era criança gostava da Xuxa e comia lasanha com farinha.
A gente cresce e fica tudo chato. Fim.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Finite Incantatem



Lembro direitinho de como e quando ganhei meu primeiro livro de Harry Potter. 25 de dezembro de 2000, Natal, véspera de uma viagem de férias. Eu sempre gostei de ler, mas não era algo que me fizesse esquecer praia e piscina com a família, então demorei umas duas semanas até lembrar da existência daquele volume fininho de capa estranha e título em verde brilhante (o logotipo com o raio no ‘P’ ainda não existia).

Foi amor à primeira leitura, e creio que muitos dos fãs mais antigos de Harry Potter sabem do que eu estou falando. Uma escrita fluida, uma história mágica e ao mesmo tempo sombria... Era irresistível! Veio a ansiedade pelo segundo, depois pelo terceiro... Eu e meus colegas de turma não falávamos de outra coisa. Simplesmente não conseguíamos tirar a cara dos livros. Li Pedra Filosofal em duas semanas, Câmara Secreta em uma semana e meia, Prisioneiro em uma semana e Cálice de Fogo em quatro dias.

Emoção suprema mesmo foi quando descobrimos que nosso livro preferido viraria filme. Não consigo descrever o nível da minha histeria no momento em que vi o trailer. Acho que, para muitos de nós, o primeiro filme é um dos melhores. É uma preferência muito subjetiva, ligada à nossa euforia de criança em ver na telona algo que sempre nos aguçou a imaginação durante as leituras. Enfim...

Particularmente, eu não sou uma grande fã da série cinematográfica de Harry Potter. As adaptações deixaram muito a desejar, em termos de roteiro, atuações, elenco... Mas estive no cinema, fielmente, a cada exibição, ao longo destes 10 anos. E agora que assisti ao último, é difícil acreditar que acabou. Me sinto meio órfã, a ficha não caiu, sabem? Parece exagero, mas eu cresci com Harry Potter. Não eu, somente, mas toda uma geração de fãs e leitores apaixonados. Nós vimos a série crescer. As locações, os atores, tudo. Foi graças a HP que melhorei meu nível de leitura e de escrita.Não consigo acreditar que não haverá mais estréias, ou fãs loucos nas filas de cinema ostentando varinhas, chapéus, corujas e até mesmo o uniforme de Hogwarts. Como assim, acabou?

Creio que todos nós partilhamos esse sentimento, sejamos fãs loucos a ponto de vestir, literalmente, a camisa do personagem, ou fãs moderados, que leram os livros, foram ao cinema e só. Independentemente de livro, filme, personagem ou Casa favoritos, estamos órfãos. E duvido, sinceramente, que uma outra série consiga alcançar o mesmo feito da septologia de J. K. Rowling. Que outro filme marque tanto as carreiras de Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint. Até mesmo que a própria Joanne consiga se desvincular do mundo que criou, nos próximos livros que vier a escrever. Harry Potter é um feito único, entendem? E insuperável. Não estou falando apenas da qualidade da série em si, mas do que ela conseguiu agregar ao seu redor. Foi impressionante.

Depois de devorar os últimos livros numa velocidade impressionante e, agora, ter assistido o último filme – que, cá entre nós, em comparação ao restante da série, conseguiu ser uma boa, densa e emocionante adaptação – eu percebo que a coisa pela qual tanto esperei já aconteceu e... E agora?

Agora que não temos mais o que esperar, bem... Não nos resta nada a não ser conservar os livros, para que nossos filhos leiam. E esperar, com todo o coração, que as futuras gerações tenham algo melhor a lembrar que a triste da Saga Crepúsculo.