segunda-feira, 7 de maio de 2012

NEYMAR E A IDOLATRIA UFANISTA

"I'm too sexy for this shit, baby"

Quem me acompanha, sabe. Diferente da maioria, não nasci gostando de futebol. Oportunista, dava uma espiadela de 4 em 4 anos, durante a Copa. Apenas pela farra, voilá. Mas belo dia em São Paulo, me apaixonei pelo Corinthians. Assim, à primeira vista. Poderia ser qualquer outro time, confesso. Mas foi o Timão, sofredor, maloqueiro, graças a Deus. Aqui conto toda essa história, se vc tiver curiosidade.

Desde então me submeti a um processo. Saber sobre o time, sobre os rivais. Depois, sobre os campeonatos, sobre os dirigentes, os clubes, as torcidas. Ir ao estádio, caçar canais de jogos na internet. Tudo de forma muito natural, com o tempo. Foi como nascer de novo e aprender a andar, depois a falar, então a ler. Não posso dizer que hoje entendo de futebol, mas digo, sim, que aprendi a gostar muito.

Aprendi a xingar o juiz, a provocar o outro time, a cornetear o meu próprio, a vibrar nas vitórias, a reconhecer as perdas. Aliás, uma das grandes lições do esporte é reconhecer a superioridade do adversário ou as limitações do seu próprio time. Foi assim que o Chelsea venceu o grande Barcelona de Messi. Foi assim que o Bayern venceu o Real Madrid em casa, quebrando um tabu que já durava 28 anos. E Messi errou pênalti, Cristiano Ronaldo também. Ambos craques, ambos disputando gol a gol a artilharia do ano. Futebol tem dessas, ciência inexata, caixinha de surpresas, abracadabra, uni-duni-tê. Parte é técnica, parte grande é sorte.

Quando eu fazia teatro, meu diretor dizia: “um ator não é bom. Ele ESTÁ bom”. Futebol é exatamente a mesma coisa. O time/jogador não é o melhor, ESTÁ o melhor. Dia da caça, outro do caçador. Bem parecido com a vida, essa linda.

Por isso acho extremamente desnecessária toda a babação em torno do santista Neymar. Que é sim, um grande jogador. Inteligente, hábil, craque mesmo. Mas desculpa, ele AINDA não é Pelé. Nem Messi. Idem para o Santos Futebol Clube. Que tem bom time e um ótimo técnico NO MOMENTO. E, mesmo assim, como exemplifiquei no outro parágrafo, tudo isso na hora do jogo pode servir para absolutamente nada. É onde mora a graça, felizmente.

Muitos vão interpretar como protecionismo ao Corinthians. Óbvio que prefiro meu time, prefiro vê-lo jogar a qualquer outro e peço a licença poética para acha-lo sim, o melhor do mundo. Por amor, por tesão, por devoção. Garanto, todavia, que sou sensata o bastante pra reconhecer meu melhor adversário. Hoje é o Santos, com os melhores jogadores, o melhor técnico, um grande craque e uma torcida chata/esnobe. Porém, é SÓ isso. Entendem a parábola?

Claro que todos queremos essa estrutura no nosso time. Significa MUITO, mas não é fórmula pra ganhar todo e qualquer torneio que surgir. Repito, futebol tem dessas. Fosse assim, teríamos levado a Libertadores com o time de 2000. Mas não deu. O excelente Marcos, ex-goleiro do Palmeiras, defendeu o pênalti de Marcelinho Carioca. Quer dizer, o cara defendeu o pênalti de um campeonato que estava praticamente ganho. Todo o meu ódio e todo o meu respeito por ele. Vida que segue.

Quando nego argumenta que Neymar é o único craque desta geração, esquece quem foi Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno e Robinho, que era tão promessa quanto o jovem moicano e não vingou. Tratam Neymar como veterano e esquecem que ele só tem 19 anos, ainda precisa de muito feijão com arroz antes de sequer ser comparado a Pelé. Se chegar perto dessa marca, que bom, viva! Brindaremos o mundo com outro craque que ficará para a história. O resto é pura carência de ídolos ou ufanismo barato.



Mas é muito legal ver duas gerações juntas, né?

O que me incomoda não é o time em si, tampouco Neymar. Mas toda a babação de ovos ao redor. Desculpe interromper seus sonhos dourados, amigo, mas a mídia vive disso. De fabricar ídolos, plantar ideias, criar versões. Ronaldo Fenômeno é um bom exemplo – o apelido criado pela imprensa já explica.

Digo mais: agradeço o tempo em que Ronaldo esteve no Corinthians, mas no fim das contas, acho que sua saída foi melhor para o time. Além de capitão, ele era a estrela. Diversas vezes o vi reclamando de jogador fominha, de picuinha, mesquinhez. Ele saiu, o time voltou a ser time, todo mundo voltou a ter lugar ao sol. Abro um parêntese para elogiar o trabalho de Tite neste quesito: no Corinthians de hoje, TODOS os titulares já foram para o banco, todos. Só fica quem está bem. Não há privilégios e eu acho ótimo. Fecho parêntese. Então o Fenômeno se aposentou (em tempo, na minha opinião) e continua sendo o melhor que vi jogar. Messi vem em seguida.

Aí outro dia o jornalista da Revista Alfa teve a pachorra de decretar o fim para Messi e uma grande história para Neymar. Gente, bom senso, por favor. Messi tem apenas 24 anos e não é um campeonato ou um pênalti perdido que decretará o fim de uma grande carreira. Porque a de Neymar também não terminou quando o Santos tomou um verdadeiro chocolate do Barça. E o jogador moicano, em suas sábias palavras, “aprendeu a jogar futebol”. Deu gosto de ver a humildade do garoto em comparação ao pouco se vê na própria torcida. Vale ressaltar que são 10 títulos em 10 anos, é MUITA coisa, de fato. Mas não justifica o deslumbramento lambarístico. Acima da média ali, SÓ Neymar. O resto é normal.

"Se Neymar é o melhor do mundo, Messi é de outro planeta" ( MARADONA, Diego)

E mesmo assim, não é bonito vê-los dividindo o mesmo campo?

Acho que o fato de ter chegado tarde ao futebol me permite ver o esporte com outros olhos. De uma forma menos técnica, talvez. De repente, outros craques precisem de pelo menos 1/3 do incentivo que recebe o craque santista. Claro, há algo chamado dom, talento. Mas talento sem técnica não é nada. Perdoem-me e corrijam-me se por acaso eu estiver falando bobagem. É só um palpite, pois detesto supervalorizações.

É legal ser fã de algo, de alguém, sabe? A gente exercita o sentimento de humildade, de superação e, especialmente, de inspiração. Mas idolatrar é perigoso. Faz a gente perder o bom senso, a imparcialidade, a justiça. Mesmo para os “ídolos”, nem sempre é saudável. Se lida bem com o sucesso, ok. Se não, sobe à cabeça e vira uma farsa chamada Adriano, por exemplo. Ou uma sucessão de autoflagelos, tipo Amy Winehouse.

Queridos, já vi jogos em que Neymar sequer apareceu e o Santos murchou. Já vi filmes em que Marilyn Monroe tem atuação pífia. E Paul MCartney não consegue mais cantar “Helter Skelter” sem desafinar.

Ainda assim, eles continuam ótimos porque são humanos. Que tal reconhecermos o valor sem pirarmos na idolatria?

PS: Não vou aceitar comentários que me ofendam. Primeiro porque sou eu quem mando nessa porra. Segundo porque xingar não é argumentar. Sejam intelectualmente honestos.