Bom
dia, Maceió! Já foram pegar um ônibus hoje?
Imagino
que muitos de nós, ontem e hoje, levaram um susto na catraca dos coletivos,
quando o cobrador exigiu mais 20 centavos nos R$ 2,10 que oferecemos a ele.
—
Pera aí, deve haver algum engano... Sexta-feira eu paguei os mesmos (e
absurdos) R$ 2,10 de sempre!
—
Pois é. — respondeu o cobrador, o mesmo ar apático de sempre. — A passagem
aumentou no sábado.
Como
assim, cobrador? Como assim prefeito, como assim, Maceió? Assim, do nada? Na
surdina? Aturdidos, corremos aos jornais, sites, qualquer informativo que
pudesse elucidar a questão. Lá estava: numa decisão monocrática, o
desembargador Washington Luiz aprovou a liminar que aumentou para R$ 2,30 o
valor da tarifa cobrada nos ônibus – em pleno fim de semana. Incrível quando a
Justiça, cega ou não, pode ser bem ágil quando quer, não é? E não é à toa que
dizem que os desembargadores pensam que são Deus. Só pode.
O
resultado, queridos maceioenses, é que pagaremos a passagem mais cara do
Nordeste e do país, se levada em consideração a quilometragem. Não bastassem as
verdadeiras sucatas que nos oferecem, chamando de ônibus, não bastassem os
atrasos e problemas mecânicos que vez ou outra empacam os coletivos bem no meio
do caminho, não bastassem os elementos que saltam a catraca da maior das caras
lisas e ainda por cima assaltam os pobres usuários... Mais uma bomba, bem no
nosso colo.
Obviamente
que o desembargador não anda de ônibus, não é? Porque até mesmo o prefeito – ele,
que costuma tomar chá de sumiço, de acordo com o jargão popular – barrou
qualquer aumento de tarifa, pelo menos antes de serem feitas as prometidíssimas
licitações de novos veículos. Hello, desembargador! Essa é uma
cidade de maioria pobre. Pra não dizer miserável. Muita gente
precisa tomar dois ou mais coletivos por vez para chegar ao trabalho, por
exemplo. No fim do dia, essas pessoas terão pago R$ 1 ou mais que isso, a mais
que o que costumavam pagar. Imaginem essa cifra no fim da semana. No fim do mês.
Dizem
por aí os turistas que o maceioense é afável, hospitaleiro. Pode ser. Inclua
'resignado' e 'estagnado' – opa, o governador vai dizer que é mentira – nisso.
Porque nada vai mudar. Há pouco tempo, um protesto conseguiu reduzir os preços
abusivos do combustível nos postos de gasolina – e a sociedade aplaudiu. Mas
quero ver, Maceió, quando sairmos às ruas fazendo barulho e reclamando nossos
direitos – nos chamarão de, como é mesmo? Baderneiros. Vândalos. Vagabundos,
desocupados. Os que possuem carro agora nos mandarão um grande foda-se. Porque
apesar de explorados, violentados e vilipendiados... Não somos as vítimas, não
é?
Só
quero ver como vai terminar essa ópera do malandro, Maceió. Só quero ver...