Dificilmente
esse texto cairá no gosto de algum (possível) leitor. É complicado falar mal de
futebol sendo do país onde esse esporte é quase uma religião, uma ideologia,
uma doença, mesmo. Felizmente, a liberdade de expressão integra o corpo da nossa
Constituição Federal, e é disso que vou me valer.
Não,
não gosto de futebol. Nunca gostei. Meu pai até tentou, me levando ao Rei Pelé
para ver o pobre Clube de Regatas Brasil em campo, quando eu era pequena. Mas tudo o que eu conseguia pensar durante as
partidas era o quão sem graça era aquele jogo e no quão assustadores meu pai e
meus primos, que costumavam ir conosco, ficavam enquanto a bola rolava. Arregalavam
os olhos, bradavam os palavrões do mundo todo, xingavam o juiz e sua família
inteira. Assim, como se a coitada da mãe do árbitro tivesse culpa.
Futebol,
só em Copa do Mundo. E olhe lá.
Dia
desses me disseram que o discurso de que “futebol aliena” e afins era velho e
tacanho. Não, não é. Hoje foi dia de final de campeonato e as consequências do
resultado só provam o quanto isso é uma realidade. São quase 2 da manhã e os
carros não pararam de buzinar, nem os fogos de explodir, nem a televisão de
exibir os melhores lances à exaustão. A cidade de São Paulo simplesmente parou
para ver o Corinthians jogar. E a minha, tão infinitamente distante e menor e
que possui seus próprios times, não me deixa dormir, agora que o título inédito
do clube paulista foi consolidado.
Digo
que futebol aliena porque já vi gente morrer por isso. Ou carregar alguma
sequela grave de um embate cujo único tema foi... Futebol. Já vi estádios
vandalizados, já vi pais de família tendo ataques cardíacos em pleno estádio,
tudo por conta de clubes cujos jogadores e diretoria não estão nem aí para a torcida.
Futebol já deixou de ser amor à camisa, sabem. Os jogadores vão e vem como
mercadorias, mesmo. E sorte do time que pagar mais.
Qual
a razão de tanta comoção, meu Deus? Podia ser Corinthians, Flamengo ou até meu
pobre CRB – não faz diferença. O futebol consegue manter milhares de pessoas
alheias à vida real. É clichê, mas se metade desse entusiasmo fosse canalizado
para outras coisas, a exemplo de protestos – e até mesmo atitudes concretas
para mudar a realidade do país – o Brasil seria uma pátria vencedora.
Certo
estava o argentino que encontrei em Roma quando fiz uma viagem em grupo, no ano
de 2010. Ao saber da sua nacionalidade, um dos meus companheiros de viagem,
numa atitude que me embaraçou ao extremo, bradou “somos penta e vocês não!”. O sábio
senhor apontou para o Coliseu, ali perto, majestoso e cheio de turistas àquela
época do ano, e disse simplesmente “pan y circo” antes de dar de ombros e ir
embora. Gol.