segunda-feira, 29 de outubro de 2012

MILITÂNCIA BURRA


Provavelmente esse texto não estará pronto nem quando estiver pronto. Porque eu estou sempre em mutação, desde quando decidi, consciente, mudar e sair da zona de conforto. Foi assim:


Minha mãe é hippie, formou-se em Comunicação Social e conheceu meu pai, um rockeiro blasé da década de 70. Cresci no meio dos jornais, das assembléias, dos comícios e aos 6 anos, lembro bem, empunhava uma bandeira do PT durante a eleição do Lula em 1989. É óbvio que eu ainda não tinha opinião formada, ia para onde me levassem. Esse é o primeiro cenário.

Depois de um limbo de ativismo político, aos 18 anos, meu primeiro voto foi no Lula, nenhuma surpresa. Eu estava estudando para o vestibular, entendia a ruptura política que representava aquele momento. Mas ainda repousava sob as influências da minha mãe, diga-se, mulher inteligentíssima e ponderada, não pensem que não. Ela me deixou livre para escolher, eu é que escolhi me espelhar nela. 

Aí entrei na faculdade, esse é o segundo cenário. E fiz Jornalismo. A Faculdade tem esse papel fundamental de moldar a visão que vc JÁ TEM de mundo. Arruma a bagagem da mochila. Aí vc estuda, debate, se inflama, percebe que não pode mudar o planeta e vira militante. E é o seguinte: militante é um torcedor. É movido por paixão, não razão. Ele se informa, mas usa mal a informação. Mal porque a informação é manipulada, maquiada e maniqueísta. Para o militante, o mundo se divide em bem & mal, preto & branco, tudo ou nada. Eu era dessas. Comunista comedora de criancinha.

Na época que cursei faculdade não existiam redes sociais, é bom frisar. Então os debates e os confrontos só aconteciam, em média, 1h por dia, 2 vezes por semana, dentro da sala de aula, que é um espaço limitado pra medir a sociedade. Na minha sala tinha de tudo: gays, homofóbicos, militantes de esquerda, reacionários, patricinhas, hippies, etc. E todo mundo se pegava nos debates, mas depois ia tomar uma no barzinho da esquina. Nunca briguei cos ~colegas da facul~ por motivações políticas ou sociais, sério. Tudo parecia se limitar às paredes da sala de aula.

Pois bem, aí surgiram as redes sociais. E as redes são graaaandes salas de aula onde tudo é potencializado: dos amores às rejeições. Até o momento que nem você suporta sua paixão inflamada porque se sente ridícula. Até o momento que você conhece gente que sabe mais e ama menos. Foi quando aprendi a dosar e, por tabela, a ponderar. Foi quando entendi como Lula ganhou sua primeira eleição: flexibilizando o discurso de sindicalista-comuna-revolts para, em seguida, dar continuidade à política econômica e social de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Eis meu terceiro e último cenário, um insight.

Abro Parêntese

Existem 3 maneiras de atingir a sabedoria:

1- Pela reflexão, que é o meio mais nobre.
2- Pela imitação, que é o mais fácil.
3- Pela experiência, que é o mais amargo.

 Preciso dizer qual foi a minha?

Fecho parêntese

Bom, então passei a seguir e a ler gente que é meu exato oposto e que, às vezes, acho babaca, única e exclusivamente para exercitar minha tolerância. Minha capacidade de aprender e de recuar se achar necessário. Não é sempre, claro. O primeiro impulso é morrer de raiva e querer abrir a cabeça do ~cidadão di bem~ com um machado pra ver se entra algo de útil.

Acredito na ignorância, justamente porque já fui ignorante. Por isso que a esquerda/direita – aquela que sabe conversar, que aceita e enriquece o debate – é formada por sábios e estudiosos. FHC taí para não me deixar mentir. Fernando não é um antidemocrata, conservador e autoritário como seu pupilo Serra. Pelo contrário, foi um dos principais articuladores das Diretas Já, apóia a descriminalização da drogas e com certeza já leu Marx.

Em contrapartida, a parte podre de seus discípulos vive a confundir socialista com São Francisco de Assis. Ou a desprezar conhecimentos de Filosofia, História e Sociologia “porque o que importa é Economia”. Ou a achar que esquerdista é tudo babaca e devia sumir do mapa.

Explicar umas coisinhas básicas:

1)    Socialismo: Divisão igualitária de riquezas, poder e oportunidades que vêm do Capitalismo. O Socialismo é a transição exata entre o Capitalismo e o Consumismo.  Não tem NADA a ver com voto de pobreza, fica a dica.

2)    Se vc acha que a Economia está acima de todas as ciências, além de burro, é autoritário. Fim.

3)    Se vc endossa a propaganda conservadora baseada no medo, no ódio ou na intolerância, viola o princípio básico da República, que é a diversidade social, intelectual e ideológica. Se não sabe conviver e dialogar com o diferente, a ditadura mais próxima é logo ali.

Viu como militância é burra? Pare e assuma, para si mesmo, os erros dos seus representantes e os acertos dos seus adversários. É um bom começo. Foi por onde comecei.

É claro que, no frigir dos ovos, ainda sou uma comunista-comedora-de-criancinhas, mas só assim pude apontar o erro alheio: quando meu teto de vidro foi quebrado e eu mostrei todos os cacos.

Hasta La vista! 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O PREÇO DO UNFOLLOW


AVISO: esse post contém fortes doses de opiniões contrárias à unanimidade e bastante chorume. Se estiver indisposto, não prossiga e guarde as pedras no bolso. Obrigada!

Foi-se o tempo em que telefones serviam para entrar em contato, combinar um cinema, fazer uma fofoca. As redes sociais tomaram esse espaço de modo que hoje são quase a extensão da vida real. Ou algo paralelo, mas com a mesma importância.

Um lugar mágico onde fazemos e desfazemos amizades/affairs/namoros com a velocidade e a efemeridade de um simples botão follow/unfollow. Simples, rápido, fácil. Mas nem sempre indolor.

Antes das redes sociais, não era possível saber o quão babaca é seu colega de classe, de trabalho ou mesmo seu irmão. Mas babaca do ponto de vista de quem? Do SEU, óbvio. E às vezes eles são babacas mesmo e, noutras não raras vezes, VOCÊ é que é intolerante. Aliás, intolerância. Com as redes sociais descobrimos o quão intolerante somos.

E criamos regras pra tudo: não pode retuitar elogio, não pode gostar da Globo, não curtir Beatles sem conhecer TODA a discografia, não pode fazer piada com quem já morreu, não pode reclamar de juiz, não pode demonstrar carência, não pode falar de novela/futebol, não pode reclamar do frio/calor e, principalmente, não pode discordar de você.

Twitter é para os fortes, eu diria. Mas não para os pacientes.

E aí se nego quebra uma dessas regrinhas, unfollow. Pra quê esperá-lo quebrar TODAS as regras, né? Time is money, next!

“Era bom se houvesse unfollow na vida real.” Há controvérsias. Na vida real, a gente precisa sentar e lidar com o quê/quem não gostamos - de preferência, sóbrios. Ou você para e aprende a conviver com o outro ou vai embora - aquela história de “os incomodados que se mudem”. Aí você decide ir embora, mas nem sempre é possível. Também não dá para ir embora para sempre. Uma hora você precisa lidar com o mundo que nem gente grande, felizmente a vida real não oferece botãozinho unfollow, pagamento a crédito parcelado em 36 vezes e suaves prestações. É tudo ou nada, aqui e agora. Real life sim, além de para os fortes, é para os budas.

Engraçado porque eu lido com o Twitter (vamos falar de Twitter para sermos mais específicos) de maneira diferente da maioria. Considero MUITO antes de seguir alguém e sigo poucos porque quero ler todos. E aí, vez ou outra, acontecia uma amizade legal ou um affair - e uma história em ambos. Quando levo unfollow de um ou de outro, sempre penso nessa história ou no que poderia ter sido ou no inevitável o quê eu fiz?. No fim, a gente lembra do começo.

Isso, obviamente, é um problema MEU porque sou insegura. Então, unfollow pra mim é rejeição - pelo que falo e por aquilo que represento. A não ser que sejam coisas muito pontuais: “vc flooda a TL em dia de jogo”, “vc fala muito de política”, “vc fala muito”. E os amigos que me explicaram isso como quem diz “Vamos ali tomar um chope?” são meus amigos até hoje porque lido bem com foras e porquês, mas não trabalho com abandono, sem bilhete, sem vestígios. Trabalho com reciprocidade, o resto é migalha.

Não, não me abandone! Não me desespere!
Porque eu não posso ficar sem você
êê!

Já bati na casa de um cara SÓ pra saber se ele ainda me queria. O moço solenemente disse que não e me mandou ir embora. Desnecessário o que eu fiz? Muito! Mas eu precisava fazer isso por mim ou não teria paz. Ele me deu o fora, disse o porquê e a vida seguiu. Percebe?

E já levei milhares de unfollows e blocks dos que eu considerava próximos, sem nenhuma despedida. Em mim, sempre fica uma lacuna aberta. Aí fico um tempo feito alma penada procurando um limbo.

Em outro caso, eu seguia uma amiga de faculdade da qual discordava politicamente. E foi-se por longos anos até que eu a bloqueei porque 90% dos tweets dela eram indiretas grosseiras a mim. Mas antes de lhe dar block, eu escrevi uma carta aberta propondo uma trégua. Ela nunca respondeu e nunca mais nos falamos. Paciência, doeu mais em mim que nela.

 E se até ele reclama de unfollow, pq não eu?

Claro, ninguém é obrigado a dar explicações depois de unfollow, de repente, o “unfolado” nem vale isso na sua concepção. Reitero que essa é minha postura, especialmente com os mais próximos. Na verdade, nunca dou unfollow em quem considero “amigo”, geralmente dou unfollow back. Alguns dirão que faz parte do show, afinal você não é obrigado a ler quem não quer. Concordo e por isso pondero antes. Sigo poucos e bons.

No entanto, vejam só, as redes sociais deram um jeitinho de amenizar a dor do rejeitado: há uma ferramenta em que o usuário deixa de ler quem não quer, mas não necessariamente desfaz a amizade. É uma espécie de filtro – nego me põe na peneira e não me lê mais, só que ele não me deu unfollow ou cancelou minha assinatura, eu continuo ali, na listinha.

Aí pergunto: pra quê?

Se o filtrado não é seu parente, por que ainda ser seu amiguinho virtual? Política de boa vizinhança? Ah, vocês me desculpem, mas filtro é para quem não tem cojones. Dar-se-á o mérito a quem pratica unfollow neste caso.
Nego unfola no tuito e mantém ~amizade~ no Facebook. Gente, não! Vamos ficar de mal de uma vez só. Corta-aqui-o-dedinho-que-já-vai-fe-char.

“Ah, mas eu nada tenho contra você, apenas contra o que você escreve”. RISOS.

Enfim, para muitos tudo isso não passa de uma enorme bobagem e eu estou sendo uma otária melodramática. É, sou dessas, pago o preço. Não sei ser desencanada, forte, segura, toco a bola pra frente e me voy. Meu sobrenome é drama e pra mim unfollow é coisa séria.

Beijo!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

COXA E CORINTHIANS: UMA PÉSSIMA RODADA


Como todos devem saber, as torcidas do Coritiba e do Corinthians protagonizaram cenas lastimáveis na rodada do Brasileirão neste fim de semana, veja aqui e aqui. Antes de mais nada, reitero: cenas lastimáveis, escrotidão, covardes em bando.

Só que aí vi gente comentando que “oras, torcida do Coxa é imbecil, motivo: Curitiba”, como se São Paulo fosse o lugar mais pacífico e democrático do Brasil. E vi palmeirense dizer “olha como corinthiano é imbecil”, como se semanas atrás não houvesse o seguinte episódio: palestrinos furiosos no Pacaembu, jogando objetos no campo quando Romarinho fez um gol e comemorou em frente à torcida alviverde. Isso sem citar as cadeiras quebradas do estádio por conta da derrota. Então assim, sem essa de que corinthianos e coxas são babacas. É um problema de TORCIDAS, não de clubes. Afinal, quem não se lembra que Loco Abreu foi sumariamente PUNIDO por ter beijado o símbolo do Botafogo diante dos xingamentos da torcida do Flamengo? Ou Neymar vaiado durante jogo do Brasil no Morumbi. Porque tava jogando mal? Não. Porque é santista. Única e exclusivamente, desculpae.

É aquela velha história de que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Se foi com o time do outro, tudo bem. "O meu é super-educado, fino, politicamente correto". Parem. Apenas parem. Só podemos reeducar a torcida brasileira quando PENSARMOS como torcida brasileira e não como de clube A, B ou C. É o primeiro passo, creio.

Há ainda outra questão que vou levantar, mas temo ser linchada em praça pública. Enfim, hay que endurecerse sin perder la ternura.  As “regras de etiqueta” dentro de cada torcida: Não pode gritar gol antes, não pode ir com blusa de outra cor diferente do time em questão, não pode cornetar, blablabla. Antes de mais nada, reitero: sou CONTRA violência, de todos os tipos, cor e credo, inclusive à liberdades individuais.
Mas há mais critérios entre o céu e o mar do que julga nossa vã filosofia. Vamos lá, nada vai mudar se eu gritar gol antes, certo? Certo, é superstição. Nada muda também se eu for com a blusa de outra cor para o jogo de time X, ok? Ok, também é superstição. Nada muda se eu cornetar. Mas a torcida não gosta de nada disso e vc é xingado se o fizer, enfim. E até xingar/reclamar/protestar, admito e acho legítimo. Nego tá na sua casa e na sua casa as regras são SUAS, os que entram precisam conhecer e respeitar. Violência é onde se perde a razão na discussão. E o anfitrião se torna um animal, um primitivo. Foi o que infelizmente aconteceu na torcida do Coxa e era o que poderia ter acontecido na torcida do Corinthians se a polícia não tivesse intervindo.

Alguém disse que “Futebol é a religião do ateu” e não poderia haver melhor definição. O futebol nos dá a licença para falar palavrão, para xingar a mãe do juiz, para gritar gol depois das 22h, para fazer buzinaço em plena segunda-feira, para praticar bullying com o rival impunemente. É quase a licença para um LEVE desvio de caráter. Eu disse LEVE, veja. Porque tudo tem LIMITE. A violência é esse limite. Violência física e verbal. É onde vc deixa de ser torcedor civilizado para ser um bicho. Mas no estádio, há de se reconhecer que esse limite transita por uma linha tênue entre a civilização e a barbárie.

No fim, o que eu quero dizer é: se os episódios se resumissem à xingamentos da torcida em forma de protesto e não em violência físico-verbal, eu apoiaria porque estão em suas casas. Do contrário, é vandalismo. Puro e simples. De TODOS.

É isso.