Provavelmente
esse texto não estará pronto nem quando estiver pronto. Porque eu estou sempre
em mutação, desde quando decidi,
consciente, mudar e sair da zona de conforto. Foi assim:
Minha
mãe é hippie, formou-se em Comunicação Social e conheceu meu pai, um rockeiro
blasé da década de 70. Cresci no meio dos jornais, das assembléias, dos
comícios e aos 6 anos, lembro bem, empunhava uma bandeira do PT durante a
eleição do Lula em 1989. É óbvio que eu ainda não tinha opinião formada, ia
para onde me levassem. Esse é o primeiro cenário.
Depois
de um limbo de ativismo político, aos 18 anos, meu primeiro voto foi no Lula,
nenhuma surpresa. Eu estava estudando para o vestibular, entendia a ruptura
política que representava aquele momento. Mas ainda repousava sob as influências
da minha mãe, diga-se, mulher inteligentíssima e ponderada, não pensem que não.
Ela me deixou livre para escolher, eu é que escolhi me espelhar nela.
Aí
entrei na faculdade, esse é o segundo cenário. E fiz Jornalismo. A
Faculdade tem esse papel fundamental de moldar a visão que vc JÁ TEM de mundo. Arruma
a bagagem da mochila. Aí vc estuda, debate, se inflama, percebe que não pode
mudar o planeta e vira militante. E é o seguinte: militante é um torcedor. É
movido por paixão, não razão. Ele se informa, mas usa mal a informação. Mal porque a informação é manipulada, maquiada e
maniqueísta. Para o militante, o mundo se divide em bem & mal, preto &
branco, tudo ou nada. Eu era dessas. Comunista comedora de criancinha.
Na
época que cursei faculdade não existiam redes sociais, é bom frisar. Então os
debates e os confrontos só aconteciam, em média, 1h por dia, 2 vezes por
semana, dentro da sala de aula, que é um espaço limitado pra medir a sociedade.
Na minha sala tinha de tudo: gays, homofóbicos, militantes de esquerda,
reacionários, patricinhas, hippies, etc. E todo mundo se pegava nos debates,
mas depois ia tomar uma no barzinho da esquina. Nunca briguei cos ~colegas da
facul~ por motivações políticas ou sociais, sério. Tudo parecia se limitar às
paredes da sala de aula.
Pois
bem, aí surgiram as redes sociais. E as redes são graaaandes salas de aula onde
tudo é potencializado: dos amores às rejeições. Até o momento que nem você
suporta sua paixão inflamada porque se sente ridícula. Até o momento que você
conhece gente que sabe mais e ama menos. Foi quando aprendi a dosar e, por
tabela, a ponderar. Foi quando entendi como
Lula ganhou sua primeira eleição: flexibilizando o discurso de sindicalista-comuna-revolts
para, em seguida, dar continuidade à política econômica e social de seu
antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Eis meu terceiro e último cenário, um insight.
Abro Parêntese
Existem
3 maneiras de atingir a sabedoria:
1- Pela reflexão, que é o meio mais nobre.
2- Pela imitação, que é o mais fácil.
3- Pela experiência, que é o mais amargo.
1- Pela reflexão, que é o meio mais nobre.
2- Pela imitação, que é o mais fácil.
3- Pela experiência, que é o mais amargo.
Preciso dizer qual foi a minha?
Fecho parêntese
Bom,
então passei a seguir e a ler gente que é meu exato oposto e que, às vezes,
acho babaca, única e exclusivamente para exercitar minha tolerância. Minha
capacidade de aprender e de recuar se achar necessário. Não é sempre, claro. O
primeiro impulso é morrer de raiva e querer abrir a cabeça do ~cidadão di bem~
com um machado pra ver se entra algo de útil.
Acredito
na ignorância, justamente porque já fui ignorante.
Por isso que a esquerda/direita – aquela que sabe conversar, que aceita e
enriquece o debate – é formada por sábios e estudiosos. FHC taí para não me
deixar mentir. Fernando não é um antidemocrata, conservador e autoritário como
seu pupilo Serra. Pelo contrário, foi um dos principais articuladores das
Diretas Já, apóia a descriminalização da drogas e com certeza já leu Marx.
Em
contrapartida, a parte podre de seus discípulos vive a confundir socialista com
São Francisco de Assis. Ou a desprezar conhecimentos de Filosofia,
História e Sociologia “porque o que importa é Economia”. Ou a achar que
esquerdista é tudo babaca e devia sumir do mapa.
Explicar umas coisinhas básicas:
1) Socialismo:
Divisão igualitária de riquezas,
poder e oportunidades que vêm do Capitalismo. O Socialismo é a transição exata
entre o Capitalismo e o Consumismo. Não
tem NADA a ver com voto de pobreza, fica a dica.
2) Se vc
acha que a Economia está acima de todas as ciências, além de burro, é
autoritário. Fim.
3) Se vc
endossa a propaganda conservadora baseada no medo, no ódio ou na
intolerância, viola o princípio básico
da República, que é a diversidade social, intelectual e ideológica. Se não sabe
conviver e dialogar com o diferente, a ditadura mais próxima é logo ali.
Viu como militância é burra? Pare e assuma, para
si mesmo, os erros dos seus representantes e os acertos dos seus adversários. É
um bom começo. Foi por onde comecei.
É claro que, no frigir dos ovos, ainda sou uma
comunista-comedora-de-criancinhas, mas só assim pude apontar o erro alheio: quando
meu teto de vidro foi quebrado e eu mostrei todos
os cacos.
Hasta
La vista!