1001 discos para ouvir antes de morrer
#2: Elvis
Presley – Elvis Presley (1956)
Para
um álbum de estreia, Elvis Presley
alcançou consideráveis façanhas. Uma delas é integrar a lista dos 200 álbuns
definitivos do The Rock and Roll Hall of
Fame. Para os ouvidos do século XXI, acostumados a álbuns bem produzidos e
remasterizados, talvez o rock’n roll
do então jovem de 21 anos que era Elvis soe como uma gravação de garagem. De
fato, a qualidade da produção não é um primor, mas já nos permite antever os
primeiros traços do talento que coroou, posteriormente, Elvis Presley como o
Rei do Rock.
A
verdade é que Elvis Presley foi montado
às pressas, às vésperas de seu lançamento. Das doze faixas, sete foram
registradas no início do ano de lançamento, 1956, e as outras cinco eram
provenientes da Sun Records, onde
Elvis gravou seus singles antes de ser contratado pela RCA (selo do seu debut album). Por isso, o disco parece
inconsistente e indeciso quanto à qualidade das faixas, algumas mais nítidas,
outras que realmente se assemelham a gravações amadoras. Pode-se dizer que é um
disco imaturo e um pouco cru, como o rock era naquela época. Mas o resultado
final não deixa de ser uma bela estreia no mundo fonográfico. Desde o
princípio, o Rei do Rock já demonstrava muitas das peculiaridades que o
projetaram de East Tupelo, Mississipi, para o mundo.
Esse
Elvis era um verdadeiro combo-breaker,
não era? Voz, suingue e aquele rosto que colocou os anos 50, 60 e 70 para
suspirar. E algumas gerações posteriores também (olá!). O primeiro álbum do
bonitão me fez lembrar os bailes americanos que a gente vê nos filmes de época:
moças de saia comprida e rabo de cavalo, rapazes de topete, brilhantina e
jaqueta de couro, bem ao estilo Grease –
ou bem ao estilo do próprio Elvis. Muito embora, naqueles distantes anos 50, o
rock (ou o rockabilly) tenha demorado a ser aceito nos tais bailes por ser
música de negros – que, naquela época e no país segregado que eram os Estados
Unidos, eram tidos como arruaceiros e imorais, então estes eram os adjetivos
que atribuíam também à sua música.
Os vocais poderosos do senhor
Presley nos dão as boas-vindas na primeira faixa, Blue Suede Shoes, um clássico do rock assinado por Carl Perkins, e
assim o disco flui: repleto do rockabilly que Elvis ajudou a fundar. Salvo
algumas exceções, como I’m Counting on
You, a segunda faixa, um belo gospel que me faz me perguntar o porquê deste
gênero não ter produzido músicas tão originais no Brasil (sem generalizar, é
claro). E uma solitária Blue Moon lá
no fim do álbum, canção que a maioria de nós deve conhecer na versão dos The
Marcels, como abertura da novela O Beijo
do Vampiro, de 2002. A Blue Moon
de Elvis é definitivamente mais blue – mais coerente com a letra que a versão
dos Marcels, suave, lenta, música de dançar agarradinho... Ou de sofrer ao lado
da vitrola. Podemos escolher.
Para chacoalhar o esqueleto, Tutti-Frutti (bem parecida com Blue Suede Shoes), I Got a Woman, One-Sided Love.
Para os apaixonados, Elvis está todo romântico em I Love You Because (“Most of
all I love you because of you” – quase consigo ouvir os suspiros das
adolescentes daquela época...) e em I’ll
Never Let You Go (Little Darlin’). E há, é claro, Tryin’ to Get to You, que, para mim, é onde Elvis deu o seu melhor
vocalmente, de todo o álbum.
Enfim: Elvis Presley é um álbum para fãs do estilo. O rei ainda não era
rei, nem seus vocais tão encorpados. São pouco mais de 28 minutos que
demonstram porque Elvis Presley se elevou de um caipira para uma lenda
nacional. Claro que, para quem não curte o cara, o álbum tem inúmeras falhas
para apontar. Eu, como uma saudosista (nascida em 1991, ok, mas ainda assim
saudosista), gostei muito. Não é nada imperdível para quem prefere o Elvis mais
amadurecido vocalmente (e musicalmente), mas vale a pena dar uma conferida nos
primeiros passos do ídolo. Me fez desejar muito escutá-lo numa vitrola. Eu já
disse que preciso de uma vitrola?
Link para o torrent aqui.
(Só
para deixar claro, caso eu tenha feito alguma besteira: eu não sou crítica
musical. Ando pesquisando um bocado para não falar bobagem, mas meu texto está
mais que suscetível a erros. Acho que eles são perdoáveis e acho que, ao final
dos 1001 discos, estarei bem mais amadurecida nesse ramo da escrita... Ou não.
Vai saber, né. Estou me divertindo e é o que importa).