“A velhice é uma tirania que proíbe, sob pena de
morte, todos os prazeres da juventude” (François La Rochefoucauld)
Morrer
é fácil, difícil é envelhecer. Com todas as rugas e ressacas de um passado viçoso,
quase etéreo, todos temos pavor de ficarmos gagás, inúteis, estorvos. De não
ser mais convidado para as festas, de voltar a ser criança e ver seu corpo
definhando, arrastando-se em dependência, em decadência, nostálgicos de outrora.
Quem
precisa de purgatório? Aqui habita um velho.
Um
colecionador de dores nas juntas ou de remédios no armário do banheiro. A cútis
é curtida pelo tempo e os fios de cabelos completamente albinos. A maior
felicidade é receber alta do ortopedista. A decoração sobre o criado-mudo é sua
dentadura boiando em um singelo copo de água amarelada, enquanto sua bengala
jaz na cabeceira da cama.
Sua mente quer correr 3 km, seu corpo só aguenta até a esquina. Isso, se sua mente quiser alguma coisa. Menopausa é a última menstruação, o último suspiro da libido, o sopro do dragão. É como ir ao próprio velório.
Sua mente quer correr 3 km, seu corpo só aguenta até a esquina. Isso, se sua mente quiser alguma coisa. Menopausa é a última menstruação, o último suspiro da libido, o sopro do dragão. É como ir ao próprio velório.
Charles
Chaplin dizia que deveríamos nascer velhos e ir rejuvenescendo até morrer como
bebês. Qualquer semelhança com “O Curioso Caso de Benjamin Button” não é mera
coincidência. Seria bom, mas a natureza é sábia. Envelhecer é pagar todos os
pecados aqui e agora, é padecer de todas as merdas que se fez durante uma
juventude transviada, mesmo que James Dean não tenha tido essa sorte. Sorte? Feliz é Kurt Kobain, Amy Winehouse, Marilyn Monroe, Janis Joplin: todos lindos e jovens, imortalizados nas mentes saudosas dos tempos de peace and love.
Envelhecer é lamentar o
tempo perdido. É perceber, tarde demais, que a vida é agora. Que todos os dias, meu bem, devemos ser felizes para sempre. Como os punks, que vivem rápido, pra morrer logo. "It's better to burn out than to fade away": é melhor queimar, que se apagar aos poucos, já dizia Neil Young.
No entanto, planejamos. Nossa juventude é para quando ficarmos velhos. Ninguém quer envelhecer sem ter onde cair morto, sem vinténs escondidos embaixo do colchão. Não há recompensas para a inércia do corpo. A juventude planta, a velhice apenas colhe. E quando ela chegar, nossa única preocupação deve ser sobre se vai fazer chuva ou sol.
“Tem homens que envelhecem. Outros clinteastwoodizam-se”.
Pra não dizer que eu só falei das pedras.
Li a frase nalgum lugar das internete e achei genial. Entenda “homem” de maneira genérica, deveríamos todos ser clinteastwoodinizados. Homens e mulheres firmes e fortes, produzindo mistérios, discrição e elegância. Personagens de si mesmos, indo e vindo, tão livres e libertos quanto qualquer moiçolo rebelde sem causa. Eu chamo de encarar a velhice.
Do bom exemplo, temos Sophia Loren. Um dia, ao ser perguntada sobre qual era o segredo da sua juventude eterna, Sophia respondeu: "Eu tenho dinheiro para comprar todos os bombons do mundo. Apenas não os compro nem os como". Sim-ples as-sim. Anotou?
Do bom exemplo, temos Sophia Loren. Um dia, ao ser perguntada sobre qual era o segredo da sua juventude eterna, Sophia respondeu: "Eu tenho dinheiro para comprar todos os bombons do mundo. Apenas não os compro nem os como". Sim-ples as-sim. Anotou?
“Há uma fonte da juventude: sua mente e seu talento”
(Sophia Loren)
Temos também Sean Connery que, se quisesse, ainda poderia se dar ao luxo
de comer umas menininhas por aí. Foi questionado sobre se toparia encarnar uma versão
madura de James Bond. Sorriu e disse: “Não, obrigado. Eu envelheci, James nunca
envelhecerá”. É por aí. Vamos assumir que essa moto você não consegue mais
pilotar porque o tempo passou, colega. Lide com isso.
De
mau exemplo temos Suzana Vieira, que continua sendo uma espécie de Manual Do Que Não Fazer Ao Envelhecer. Não
gosto de cagar regras, cada um é feliz como quer. Mas meu palpite é que envelhecer bem não é pagar topless em Cancún, minha senhora. É reconhecer seu
corpo e sua mente com todas as limitações e fracassos que a idade impõe.
Eu mesma já perdi o timing de pagar peitinhos num show de rock montada na cacunda de um mozão. Quer dizer, acho que ainda me restam uns 5 anos mais, vai. Enquanto o Pearl Jam ainda existir, pelo menos.
Eu mesma já perdi o timing de pagar peitinhos num show de rock montada na cacunda de um mozão. Quer dizer, acho que ainda me restam uns 5 anos mais, vai. Enquanto o Pearl Jam ainda existir, pelo menos.
Zé
Mayer é outro que não larga o osso de galã de novela das 9. Haja pílula azul pra pipa do vovô continuar subindo. E tome gatinhas e o coroa lá, forevah-young. O Zé come até a Mãe Natureza em qualquer novela do Maneco. Típico de quem se recusa a ficar velho.
E
Axl Rose? Guardadas as devidas proporções, claro, o Jim Morrison da década de
1990: um pinto e uma voz, a virilidade em pessoa. Devia haver uma lei que o
proibisse de envelhecer. Axl se tornou uma sombra mal traçada de si mesmo e, no
meu quarto de adolescente, jaz a lembrança de um pôster do rockstar gostosinho,
usando shortinho do Tchan e bandana enquanto entoa Patience... RIP!
Ohh! Sweet child o'
mine...
Então, assim, ficou velho? Abrace a causa. Ceder ao tempo não é sinal de fraqueza, mas de amor próprio e (algum) equilíbrio mental. Não vale pirar na batatinha do elixir da vida eterna.
Uma
hora até Madonna vai ficar ridícula dançando Like a Virgin.