Povos revoltados da pátria amada Brasil, não há como esperar mudança, e sinto muito aos que me declaram pessimista – meus poucos anos na Terra já me garantiram um senso de realismo lamentável.
A cada dois anos, nos declaram amor eterno. Andam conosco, nos abraçam, nos fazem promessas (claro que depois eles tomam um banho de duas horas em seu luxuosíssimo ofurô). Até que num domingo ensolarado – e enfatizo este ensolarado, ao menos na minha abençoada Alagoas – vamos até a urna, digitamos os números que – esperamos – vão mudar a nossa vida e apertamos a teclinha verde.
Ainda temos algumas horas de benquerer. Carreatas, abraços, polegares erguidos e acenos animados da varanda de alguma cobertura na Ponta Verde. Alguns vão até a TV, emocionados, agradecem a confiança depositada e prometem, mais uma vez, fazer jus ao tão precioso voto. E fim. Finda então o prazo de validade deste dito ‘amor incondicional’.
A pergunta que não me abandona é: por que raios insistimos no erro, se passam-se anos e mandatos e a estagnação continua? O que impele este povo pobre, necessitado e faminto a abraçá-los como se eles fossem a real solução dos nossos problemas? Ou pior... O que nos leva a votá-los? Eles são a mesmice. Eles nos enganam. Eles fatiam nosso Estado a olhos vistos, cada qual com seu cada qual, buscando o maior pedaço de bolo. Seus nomes aparecem envolvidos em escândalos, denúncias e nós novamente lhes entregamos o poder, com louvor, distinção e destaque.
Talvez a real mazela seja o conformismo em ter que escolher entre ‘sujo’ e ‘mal lavado’. ‘Rouba, mas faz’ – é nesta adjetivação que buscamos nosso candidato. O que nosso povo precisa entender, com uma urgência descomunal, é que uma reforma de orla não significa nem resume um bom governo. Todos os dias, eu sou submetida – ou bombardeada – por atestados de que nada está bem e que é muito difícil a possibilidade de um dia melhorar.
Transporte público – eles são mais latas de sardinha e máquinas de intimidade forçada que ônibus. Universidade Federal – as Ciências Humanas há muito não sabem o que são recursos ou investimentos. Segurança – as notícias de homicídios, roubos e tráfico, de tão freqüentes, já são banais. Saúde. Infra-estrutura. Distribuição de renda. E estou sendo generosa.
Mas não quero fugir muito da pauta. A questão ainda é a insatisfação. Sim, vivemos uma democracia, onde a vontade do povo prevalece, mas o que há de se fazer quando a porção majoritária da população é ingênua, influenciável ou – perdoem-me a franqueza – analfabeta política? Nós – e não quero parecer pretensiosa ao me incluir neste grupo – que temos algum esclarecimento (e não é preciso tanto para enxergar a acidez da nossa presente realidade) acabamos sofrendo com as escolhas da parcela cega das decisões. E aí surge o ciclo vicioso: o Governo nos mantém na ignorância para nos enganar, sazonalmente, e assim elegemos nossos próprios algozes.
Solução? Quanto mais reflito, não encontro o gatilho da reação em cadeia. Talvez o jeito seja alugar o Brasil... Ou explodir tudo. Mas as idéias subversivas, eu guardo pra mim.
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