domingo, 8 de março de 2015

DIA DA MULHER: Happy hipócrita day!

Não, eu não quero flores nem parabéns por ser mulher. 

O Dia Internacional da Mulher tem como origem a luta das mulheres russas (obrigada, sovietes) por melhores condições de vida e de trabalho no final do século XX. Mais tarde, nos EUA, o Dia da Mulher virou mote pelo direito ao voto. E nós, ocidentais, seguimos celebrando o dia até os anos 20. Mas, a partir daí, a data foi esquecida e só recuperada pelo Movimento Feminista a partir da década de 60. Até chegarmos aos dias de hoje, onde o 8 de Março só serve pra vc me dar os parabéns e me mandar flores. E, quem sabe, perfumes.


Ontem eu assisti ao filme Doce Vingança e esta é a cena mais chocante sobre a história de uma mulher que foi estuprada por 5 homens. Como a arte imita a vida, a película traz diálogos que deixam claro do que se trata o estupro e não, não é por prazer, não é pela roupa. É por ódio. Misoginia. Num cenário em que a mulher é sempre a culpada por... ser mulher. Todo mundo já deve ter ouvido coisas do tipo: “ela provocou, tava de saia curta, decote”, “Ele brocha porque ela também não anima, não seduz, é toda desleixada”, “Olha, ela bebeu demais, não se deu ao respeito”. Enquanto o homem é esse pobre Adão seduzido por uma Eva malvada, levado ao limite dos seus instintos carnais porque, afinal, ele é como um bicho, não consegue se controlar, é homem, coitadinho. 

O resultado prático dessa cultura do “instinto” - aspas enooooormes porque isso é CONSTRUÇÃO CULTURAL, alguém disse aos homens que eles são animais irracionais e isso é imutável, intrínseco, biológico e blablaBULLSHIT e eles não apenas acreditaram como legitimaram essa mentira - é que em São Paulo foram registrados 50 mil casos de estupro no ano de 2012, 18% a mais que em 2011. Enquanto o número de homicídios dolosos ficou na casa dos 47 mil (fonte: http://glo.bo/1CON6dC), ou seja, o número de estupros SUPERA o número de homicídios e só tende a aumentar, ano pós ano. E isso tem a ver com o fato de as mulheres não mais ficarem caladas, submissas. Tem MUITO a ver com o fato de agora termos (um pouco de) voz e eles terem um pouco mais de ódio. Afinal, deve ser chato crescer achando que alguém nasceu pra te servir e do nada aparecem umas loucas dizendo que não, não tem que vestir a roupa certa pra eu não estuprar. Ou não, não tem que conquistar meu respeito porque é dela por direito. Ou ainda não, não tem que se vestir de gueixa e dançar a macarena pro meu pau subir, ora bolas, que mundo é esse que não gira em torno do meu umbigo??

Então não, eu não quero flores. Eu quero respeito, MESMO bebendo, rindo alto, usando esmalte vermelho, saia curta, decote, tatuagem porque isso nada tem a ver com meu caráter. Quero andar na rua ou no transporte público sem ser vista como uma carne de açougue. Aliás, quero não ser apenas carne de açougue para a sua diversão. Quero não ser julgada pela roupa que visto, pelos lugares que freqüento, pelas companhias que tenho, pelas tatuagens que carrego, pela família em que nasci porque NADA disso diz respeito ao meu caráter ou me define, mas me tolhe, me limita e me faz ser o que VOCÊ quer que eu seja, não o que realmente sou. É o preço que pago pra não ser jogada na fogueira.  

Quero um pouco de empatia pra que vcs entendam, de uma vez por todas, nosso maior pesadelo: o estupro – do corpo e da alma. Porque a verdade é que somos todas estupradas todos os fucking dias das nossas vidas.

Um comentário:

Ágatha Rivera disse...

Caramba. Amei esse texto.
Descobri esse blog por acaso (eu nem usava mais meu blog, e resolvi dar uma olhadinha, e pq não nos blogs dos outros... tem alguém vivo aí ainda? haha), mas tô amando todas as postagens! Essa então me fez parar para refletir... Realmente, concordo com tudo o que disse.