Por que será que os Beatles voltaram à moda? Okay, eu sei que o os meninos de Liverpool atingiram o patamar de clássicos do rock, e clássicos, de tão atemporais, passeiam pelas décadas fisgando gerações e gerações de desavisados pelos ouvidos. Só que nos primeiros anos da década passada, quando esta que vos fala começou a se interessar pela banda, creio que os Beatles visitavam a curva descendente da parábola. Não era tão fácil, ao menos em Maceió, fruir dos itens mais fúteis que todo fanboy e fangirl gosta de ter, especialmente na adolescência: camisas, pôsteres, chaveiros, CDs. Aliás, CDs! Estes benditos quase não existiam. Quando muito, reedições dos Past Masters I e II nas Lojas Americanas, a preços salgadíssimos, coisas pra colecionadores e roqueiros da velha guarda, mesmo.
Complicado mesmo era achar quem compartilhasse comigo da mesma playlist. Todo mundo já tinha ouvido falar dos Beatles e até podia arriscar um nanana meio bêbado do final de Hey Jude. Mas gostar, gostar mesmo? Que adolescente entre seus 12 e 14 anos iria incluir Help!, She Loves You, I Want to Hold Your Hand no discman (mp3 era artigo de luxo)? Não estou afirmando que eu era um caso isolado ou a única fã dos Beatles desde a tenra idade, como comentou um amigo do meu pai a respeito por esses dias, mas era assim que se apresentava minha esfera social. Meus colegas preferiam outras bandas que efervesciam na coqueluche midiática – curiosamente, todas atualmente extintas após seus (quase) literais 15 minutos de fama. Triste, não?
Eis que, em conversa recente com um amigo, ouço a frase “mas todo mundo gosta de Beatles, Ludmila!”. Meu primeiro instinto foi contrariar a afirmativa, um reflexo imediato dos anos anteriores, mas depois de uns segundos de conjecturas mudas, eu percebi. A tribo dita ‘alternativa’ sofreu sim mitose e meiose e está comum encontrar exemplares de seres trajando camisetas do quarteto inglês por aí. Aliás, minha síndrome de excluída é ficar louca pra puxar conversa quando os vejo transitar pela vida. Eu me esqueço de que os Beatles voltaram à moda...
Nothing is gonna change my world... ♫
Em 2002, chegou aos cinemas o filme I Am Sam (Uma Lição de Amor, na porca tradução), com Dakota Fanning e Sean Penn e, mesmo que a película não tenha sido a mola-motriz para o revival da invasão britânica, merece aqui certo destaque. A começar pelo fato de ser um filme belíssimo. A temática fica à sugestão do próprio título em português (argh). E tudo, claro, ao molho de Beatles. A trilha sonora é composta inteiramente por versões das músicas do fab four que são, na verdade, uma ótima forma, para os mais críticos, de começar a ouvir o som do quarteto. Digo isso porque sei que, tecnicamente falando, os Beatles eram músicos bem medianos, sem falar nas limitações técnicas da maioria dos equipamentos de gravação disponíveis na época deles. No entanto, bons amantes da música podem muito bem apurar os ouvidos e ir além dessa questão, afinal, Lennon, McCartney e Harrison eram compositores fora dos padrões e por isso arrebanham fãs até hoje, quatro décadas depois do auge.
A trilha de I Am Sam reuniu um punhado de artistas talentosíssimos, com destaque para Eddie pegael Vedder, que deixou You’ve Got to Hide Your Love Away com um ar muito sexy, e Rufus Wainwright com uma das versões mais lindas de Across the Universe. Outras que merecem muito ser ouvidas são I’m Looking Through You, que, perdoem-me os beatlemaníacos, ficou ainda melhor na roupagem da banda The Wallflowers; Two of Us, com Aimee Mann e Michael Penn e Nowhere Man, de Paul Westerberg. Aliás, querem saber? Baixem o CD todo e boa viagem.
Creio eu que o que impulsionou a juventude a conhecer melhor os Beatles foi o Across the Universe, de 2007. Como em I Am Sam, toda a trilha do filme é de versões do quarteto, com a diferença de que as canções são interpretadas pelo elenco ao longo do filme, quase como num musical. Além disso, a temática do Across é intimamente ligada à banda e referências ao fab são distribuídas por toda a película. As mais óbvias, é claro, são o nome dos personagens: Jude, Lucy, Sadie, Maxwell, Prudence, Dr. Robert (interpretado por ninguém menos que Bono Vox!), Jojo. O protagonista, Jude, sai de Liverpool, na Inglaterra, para procurar seu pai nos Estados Unidos e, nesse afã, conhece o estudante rebelde Maxwell, que torna-se seu melhor amigo, e a politizada Lucy, irmã de Max, por quem se apaixona.
Because the world is round, it turns me on... ♪
Para quem é fã de psicodelismo, hippies, anos 60/70, os movimentos sociais em protesto à guerra do Vietnã, Hair, Beatles, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Bono Vox, o Across the Universe é mais que recomendado. Eu particularmente gostei bastante do filme, embora tenha minhas ressalvas quanto à execução total do roteiro. A ideia em si foi maravilhosa e a produção tem seus pontos fortes, como, por exemplo, as cenas em que Maxwell é recrutado pelo exército americano, ao som de I Want You (She’s so Heavy). O melhor do filme são as músicas, mesmo. Algumas das versões ficaram muito, muito interessantes, sobretudo I Want to Hold Your Hand, que passou de uma baladinha alegre a um blues doce, suave e melódico na voz da lindinha da T.V. Carpio; e a faixa-título, Across the Universe (é, eu sei, eu tenho uma queda por essa música), cantada por Jim Sturgess... A introdução no violoncelo ficou de arrepiar. E With a Little Help From My Friends, com direito a momento hard rock. Enfim... Acho que de toda essa encheção de língua, dá pra depreender que o conceito geral do filme me é bem positivo, não? Aos curiosos e dispostos, vale a pena a busca tanto pela película quanto pela trilha sonora.
Bom... Já que me estendi demais e sei que textos grandes assustam, ficarei por aqui mesmo. Menciono ‘de levinho’ o The Beatles: Rock Band, lançado na oportuníssima data 9/9/9 pela EA e a Harmonix. Pausa para o parêntese: a data foi oportuna em virtude de certo simbolismo que o número 9 tinha em algumas músicas de John Lennon, fecho parêntese. E o lançamento da discografia remasterizada do fab, resultado de quatro anos de trabalho sobre as faixas originais. Cada álbum vem acompanhado de um livreto e de um minidocumentário, com direito a comentários dos quatro Beatles e até do quinto, George Martin. É uma senhora aquisição. Inclusive para o bolso... Eu, como estudante, permaneço de olho comprido, chupando dedo e ouvindo a discografia completa de que eu disponho (santo 4Shared), com as distorções sonoras características. Ê, vida de gado...
Minha opinião geral sobre o retorno até que é bem favorável. O objetivo de um artista é ser reconhecido, não é fato? Se o quarteto de Liverpool tem resistido aos anos e ainda conquista admiradores de gerações e gerações, a missão foi mais que cumprida. Claro que vivemos tempos outros, em que sexo, drogas, rock’n’roll e liberdade criativa não carregam todo o sentido de rebeldia e ruptura de outrora. São tempos musicalmente decrépitos e às vezes eu penso, melancólica, que todas as possibilidades de inovação há muito se esgotaram. Então, se consumo é a regra, com todo o meu asco por modismos, ao menos a epidemia da vez fez história e boa música. Eles só estão voltando ao lugar a que pertenceram e ainda pertencem.
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