sexta-feira, 8 de março de 2013

1001 discos para ouvir antes de morrer: #1




Cerca de um ano e meio atrás, no meu aniversário de 20 anos, ganhei do meu amigo Arthur Gustavo, vulgo Marvel (um menino bem chegado a quadrinhos, seis cordas e desafios musicais), este “pequeno” livro de quase 1000 páginas. Primeiro pensamento: “cê quer me lascar, Arthur?”. Como boa amante da música que sou, adorei o presente, claro. E comecei a fazer as contas: com a meta de um álbum por dia, em quanto tempo eu terei escutado os 1001?
Em quase três anos.
No way...
Aí, veio a ideia: por que não? Que importa se o livro tem o tamanho de um vade mecum? É só deixar a música me levar. Doer, não vai. O objetivo da empreitada é escutar os álbuns, um por dia, e escrever aqui minhas impressões. Uma maravilhosa desculpa para escrever e outra melhor ainda para enriquecer o repertório e exercitar o poder de crítica. Procrastina daqui, procrastina de lá, adiei o desafio até hoje... Mas agora, here I go!

***

1001 discos para ouvir antes de morrer

#1: Frank Sinatra – In the Wee Small Hours (1955)


Antes de mais nada, algumas informações sobre o artista, o contexto e o álbum: naqueles anos 50, a imagem que Frank Sinatra havia consagrado para si mesmo no imaginário popular, de acordo com o crítico musical Will Fulford-Jones, era a de um sujeito malandro, irônico, sempre com uma piada na ponta da língua. Em In the Wee Small Hours, este bonachão não existe. Ele dá lugar a um homem, nada mais que isso – apaixonado, ferido e melancólico, suscetível às mesmas desilusões amorosas que os ouvintes que ele embalou com suas canções. O disco foi lançado pouco tempo após o rompimento de Sinatra com a atriz Ava Gardner, com quem ele foi casado durante dois anos. Exibindo este lado confessional, visceral e meio ébrio, Frankie conseguiu construir uma belíssima obra musical sobre amor e separação. Lançado sob o selo da Capitol, In the Wee Small Hours conta com os arranjos delicados de Nelson Riddle, em uma de suas primeiras parcerias com Sinatra – para a crítica, a primeira que realmente funcionou.
In the Wee Small Hours pode ser considerado não apenas o primeiro álbum conceitual da história – foi a primeira vez que um disco inteiro foi sustentado por um mood, neste caso, o sentimento de perda da mulher amada – como o primeiro álbum propriamente dito (lembrando que álbuns são definidos como produções fonográficas de mais de 40 minutos, que agrupam, sob um título, de doze a catorze canções). A obra foi lançada inicialmente em dois discos de 10 polegadas e, pouco depois, reeditado num disco de 12 polegadas, trazendo ao público o novo formato.
Particularmente, não sou uma profunda conhecedora da obra do senhor Blue Eyes. Gosto muito de Moon River e Something Stupid (que ele cantou em parceria com a filha, Nancy) e alguns outros hits, mas confesso, nunca havia parado para escutar um álbum inteiro do homem. In the Wee Small Hours me transportou para quase uma hora inteira de melancolia e sentimentos nostálgicos (em grande parte a culpa pertence aos arranjos, que me lembraram muito os da trilha sonora dos desenhos mais antigos da Disney). Todo o álbum é permeado pelo Mood Indigo de que fala a segunda faixa e aos que estiverem mais frágeis emocionalmente, fica o alerta: In the Wee Small Hours pode ser um belo convite à choradeira.
A emblemática e vigorosa voz de Sinatra está carregada de tristeza e quem escuta acaba mergulhando no sentimento. A faixa-título e seu instrumental suave, a amargura de Glad to be Unhappy, a mágoa bêbada de Can’t We Be Friends?, a poética constatação de I Get Along Without You Very Well (na minha opinião, a melhor música do álbum):
I've forgotten you just like I should,/ Of course I have, / Except to hear your name, / Or someone's laugh that is the same, / But I've forgotten you just like I should.
In the Wee Small Hours é um álbum digno de se ouvir numa vitrola, na janela e olhando para a lua. Com a companhia, é claro, de uma taça de vinho, um bom queijo e de sentimentos profundos de nostalgia. Faz lembrar de alguém que perdemos, ou do alguém que sempre quisemos ter, e nunca existiu. Recomendo limpar a alma antes de escutar.
Boa audição!

Para quem quiser se juntar a mim, o torrent do álbum está disponível aqui.

4 comentários:

Hiro disse...

Boa resenha! Não é chata e faz você querer dar uma ouvida! Boa sorte com os próximos álbuns! =)

Gabriel disse...

Realmente dá vontade de escutar a jogada, talvez quando eu recuperar algumas bandas que perdi com a formatação do computador.

Sentir todos esse 1000 álbuns deve transformar alguém

Victor disse...

TXAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA Que resenha, véi!

Ari Denisson disse...

Ah, a dor-de-cotovelo em músicos... Lembro-me de ter folheado à exaustão esse livro no Hiper, faz séculos! Na seção dos anos 90 você vai encontrar outro álbum "cotovelar" de que gosto munto, o "Boatman's call", do Nick Cave and the Bad Seeds. Tem o "13" do Blur, também, mas esse não etá na lista.

Tenho uma resistência com os "crooners" das antigas. Mas de repente pode ser que eu dê uma escutada.