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de um ano e meio atrás, no meu aniversário de 20 anos, ganhei do meu amigo
Arthur Gustavo, vulgo Marvel (um menino bem chegado a quadrinhos, seis cordas e
desafios musicais), este “pequeno” livro de quase 1000 páginas. Primeiro
pensamento: “cê quer me lascar, Arthur?”. Como boa amante da música que sou,
adorei o presente, claro. E comecei a fazer as contas: com a meta de um álbum
por dia, em quanto tempo eu terei escutado os 1001?
Em
quase três anos.
No
way...
Aí,
veio a ideia: por que não? Que importa se o livro tem o tamanho de um vade
mecum? É só deixar a música me levar. Doer, não vai. O objetivo da empreitada é
escutar os álbuns, um por dia, e escrever aqui minhas impressões. Uma
maravilhosa desculpa para escrever e outra melhor ainda para enriquecer o
repertório e exercitar o poder de crítica. Procrastina daqui, procrastina de
lá, adiei o desafio até hoje... Mas agora, here I go!
***
1001 discos para ouvir antes de morrer
#1: Frank Sinatra – In the Wee Small Hours (1955)
Antes de mais nada, algumas
informações sobre o artista, o contexto e o álbum: naqueles anos 50, a imagem
que Frank Sinatra havia consagrado para si mesmo no imaginário popular, de
acordo com o crítico musical Will Fulford-Jones, era a de um sujeito malandro,
irônico, sempre com uma piada na ponta da língua. Em In the Wee
Small Hours, este bonachão não existe. Ele dá lugar a um homem,
nada mais que isso – apaixonado, ferido e melancólico, suscetível às mesmas
desilusões amorosas que os ouvintes que ele embalou com suas canções. O disco
foi lançado pouco tempo após o rompimento de Sinatra com a atriz Ava Gardner,
com quem ele foi casado durante dois anos. Exibindo este lado confessional,
visceral e meio ébrio, Frankie conseguiu construir uma belíssima obra musical
sobre amor e separação. Lançado sob o selo da Capitol, In the Wee Small Hours conta com os arranjos delicados de Nelson
Riddle, em uma de suas primeiras parcerias com Sinatra – para a crítica, a
primeira que realmente funcionou.
In
the Wee Small Hours pode ser considerado não apenas o
primeiro álbum conceitual da história – foi a primeira vez que um disco inteiro
foi sustentado por um mood, neste
caso, o sentimento de perda da mulher amada – como o primeiro álbum
propriamente dito (lembrando que álbuns são definidos como produções
fonográficas de mais de 40 minutos, que agrupam, sob um título, de doze a
catorze canções). A obra foi lançada inicialmente em dois discos de 10
polegadas e, pouco depois, reeditado num disco de 12 polegadas, trazendo ao
público o novo formato.
Particularmente, não sou uma profunda
conhecedora da obra do senhor Blue Eyes.
Gosto muito de Moon River e Something Stupid (que ele cantou em
parceria com a filha, Nancy) e alguns outros hits, mas confesso, nunca havia
parado para escutar um álbum inteiro do homem. In the Wee Small Hours me transportou para quase uma hora inteira
de melancolia e sentimentos nostálgicos (em grande parte a culpa pertence aos
arranjos, que me lembraram muito os da trilha sonora dos desenhos mais antigos
da Disney). Todo o álbum é permeado pelo Mood
Indigo de que fala a segunda faixa e aos que estiverem mais frágeis
emocionalmente, fica o alerta: In the Wee
Small Hours pode ser um belo convite à choradeira.
A emblemática e vigorosa voz de
Sinatra está carregada de tristeza e quem escuta acaba mergulhando no
sentimento. A faixa-título e seu instrumental suave, a amargura de Glad to be Unhappy, a mágoa bêbada de Can’t We Be Friends?, a poética
constatação de I Get Along Without You
Very Well (na minha opinião, a melhor música do álbum):
I've forgotten you just like I should,/ Of course I
have, / Except to hear your name, / Or someone's laugh that is the same, / But
I've forgotten you just like I should.
In
the Wee Small Hours é um álbum digno de se ouvir numa
vitrola, na janela e olhando para a lua. Com a companhia, é claro, de uma taça
de vinho, um bom queijo e de sentimentos profundos de nostalgia. Faz lembrar de
alguém que perdemos, ou do alguém que sempre quisemos ter, e nunca existiu.
Recomendo limpar a alma antes de escutar.
Boa audição!
Para quem quiser se juntar a mim, o torrent do álbum está disponível aqui.
4 comentários:
Boa resenha! Não é chata e faz você querer dar uma ouvida! Boa sorte com os próximos álbuns! =)
Realmente dá vontade de escutar a jogada, talvez quando eu recuperar algumas bandas que perdi com a formatação do computador.
Sentir todos esse 1000 álbuns deve transformar alguém
TXAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA Que resenha, véi!
Ah, a dor-de-cotovelo em músicos... Lembro-me de ter folheado à exaustão esse livro no Hiper, faz séculos! Na seção dos anos 90 você vai encontrar outro álbum "cotovelar" de que gosto munto, o "Boatman's call", do Nick Cave and the Bad Seeds. Tem o "13" do Blur, também, mas esse não etá na lista.
Tenho uma resistência com os "crooners" das antigas. Mas de repente pode ser que eu dê uma escutada.
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